Toda lista de "melhores alguma coisa" é um tanto injusta. Sempre fica alguém muito querido de fora e algo sempre é questionado ou refutado. E isso se agrava diante da música pernambucana, uma instituição cultural tão rica e diversificada. Mas enfim, em mais de cem anos de produção fonográfica local, quais serão os melhores discos já produzidos por artistas pernambucanos? A lista avalia não somente a qualidade musical dos discos, mas também sua repercussão e importância no cenário musical nacional. Enfim, aí vai!
10 - Sa Grama
(1998) - Sa Grama
O grupo Sa Grama foi Idealizado
para difundir a música popular através de uma linguagem erudita. O grupo foi
criado pelo compositor e flautista Sérgio Campelo, em 1995, no Conservatório
Pernambucano de Música. Seu disco de estreia, Sa Grama, mostra bem para
o que veio: formação instrumental acústica e influências do Movimento Armorial e de ritmos
tradicionais do Nordeste como frevo, baião, caboclinho e maracatu. As gravações
ocorreram no estúdio do Conservatório Pernambucano de Música, sob direção
musical do próprio Sérgio Campelo. O disco tem uma musicalidade tão envolvente
que chamou atenção dos produtores da Globo que estavam desenvolvendo a
minissérie "O Auto da Compadecida", inspirada na obra de Ariano
Suassuna. O Sa Grama acabou por fazer a trilha sonora da produção, que contou
com músicas inéditas feitas especialmente para a série e outras reaproveitadas
do seu primeiro disco e do seu segundo disco, "Engenho" (1999). Por ser um disco
que marca um momento ímpar na música instrumental pernambucana, "Sa Grama" é o 10º melhor disco
pernambucano.
09 - Passo de Anjo (2004) - Spok Frevo Orquestra
O frevo no início dos anos 2000 passava por um momento delicado. O ritmo amargava um grande período
de monotonia. Há anos nada de novo tinha sido lançado e o ritmo estava um tanto desgastado, algo natural diante de décadas sem uma verdadeira oxigenação. Tudo mudou com "Passo de Anjo". O disco marca o
renascimento do frevo para os pernambucanos. Com claras influências de Jazz, a
Spok Frevo reensinou aos pernambucanos o gosto pelo frevo e trouxe de volta aos
palcos do mundo o ritmo mais famoso do Estado. Por sua qualidade musical ímpar
e, mais importante, resgatar o gosto do pernambucano pelo Frevo, "Passo de Anjo" é o 9º Melhor Disco pernambucano.
08 - Lunário
Perpétuo (2002) - Antônio Nóbrega
Antônio Nóbrega já tinha alguns
anos de estrada quando gravou este disco. "Lunário Perpétuo" é mais do que um simples CD de músicas. Traz, a quem ouve, claros elementos teatrais e poéticos, como já se esperaria de um multiartista
como Antônio Nóbrega, que neste disco une a arte popular ao erudito com bom gosto e
sofisticação. "Lunário Perpétuo" foi
idealizado para contar o romance de Riobaldo e Diadorim, baseado na obra "Grande
Sertão: Veredas", do escritor Guimarães Rosa. Pela beleza, sonoridade e
poesia, este é o nosso 8º melhor disco
07 - Cordel
do Fogo Encantado (2001) - Cordel do Fogo Encantado
De Arcoverde para o mundo, Cordel
do Fogo Encantado é o primeiro disco da banda de nome homônimo. O disco já
tinha tudo para dar certo, a começar pela produção, que ficou por conta do
grande instrumentista Naná Vasconcelos. Nascido das peças teatrais, o álbum traz poesia
mesclada à música, que gera uma sonoridade única. As influências do Coco de
Arcoverde, da música africana e do Mangue Beat se somam à teatralidade de seu
vocalista Lirinha, criando um verdadeiro ritual de som e arte. O disco "Cordel
do Fogo Encantado" foi uma das coisas mais diferentes e impressionantes
que já surgiram em território pernambucano e, por tal razão, chega a nossa 7ª
posição.
06 - Inclinações
Musicais (1981) - Geraldo Azevedo
Geraldo Azevedo, o Geraldinho, é
sem sombras de dúvidas um dos melhores artistas pernambucanos. Um violonista de mão cheia e um grande compositor, já embalou amores,
felicidades e tristezas de muita gente. Toda sua genialidade chega ao ápice no
seu disco "Inclinações Musicais" no qual arrebatou alguns de seus
maiores sucessos como "Canta Coração", "Dia Branco",
"Coqueiros" e "Moça Bonita". Do começo ao fim, o disco é um
prato cheio para os ouvidos, nos transportando a um momento único na carreira
de um grande mestre pernambucano. É o nosso 6º Lugar
05 - Olho
de Peixe (1994) - Lenine & Suzano
Olho de Peixe é o segundo álbum de
estúdio lançado pelo cantor e compositor pernambucano Lenine em parceria com o percussionista
Marcos Suzano, em 1994. Instrumentalmente, o disco se estabelece com violões e instrumentos
de percussão. O resultado são músicas suaves e relaxantes, feitas pra se ouvir
com ventos nos cabelos e fones nos ouvidos. De acordo com o próprio Lenine,
Olho de Peixe foi o álbum mais importante de sua carreira. Nós concordamos,
afinal, foi com esse disco que Lenine lançou grandes sucessos como "Miragem
do Porto", "O último pôr do Sol" e o quase segundo hino de Pernambuco,
"Leão do Norte". Parte das músicas desse disco foram usadas na
minissérie da Globo "Caramuru, a Invenção do Brasil". Por fazerem um
disco brilhante e, infelizmente, muito difícil de se achar, Lenine e Suzano
marcam o quinto lugar.
04 - Vivo!
(1971) - Alceu Valença
O Rei do Carnaval pernambucano
teve um passado bem Rock and Roll. "Vivo!" é um disco cru e denso,
totalmente diferente da discografia de Alceu que surgiria dali pra frente. Nele
você não encontrará os maiores sucessos de sua carreira, mas se encontrará com um
Alceu tresloucado e envolvido profundamente com sua música. Gravado ao vivo no
Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, o disco tem uma captação de áudio extremamente
amadora para os padrões atuais. Ruídos e problemas de equalização são
recorrentes, mas nada disso prejudica a sonoridade do disco, pelo contrário,
ainda dá um maior ar de crueza e espontaneidade ao que se ouve. Na época,
inclusive, Valença precisou sair às ruas com o flautista Zé da Flauta para
divulgar os shows. E valeu a pena. Vivo! é o quarto melhor disco pernambucano.
03 - Carnaval
de Capiba (1959-1974) - Claudionor Germano
Lourenço da Fonseca Barbosa, o
Capiba, é simplesmente o compositor mais importante da História pernambucana.
As suas canções estão profundamente enraizadas na cultura nordestina e
influenciaram de tudo que se possa imaginar já criado dentro e fora dessa região: Brega, Tropicália ou Mangue Beat, todos devem um pouquinho ao mestre
Capiba. As mais importantes canções de
Capiba estão reunidas em uma série de discos intitulada "Carnaval de
Capiba", interpretadas por Claudionor Germano, o maior e mais respeitado cantor de Frevos. A série de discos "Carnaval de Capiba" chega em nosso terceiro lugar.
02 - Pisa no Pilão (Festa do Milho) (1964) - Luiz Gonzaga
A maior voz Nordestina fez um
disco irretocável na década de 60. "Pisa no Pilão" está longe de ser o
disco mais popular de Gonzagão, mas é o seu disco melhor construído. Elaborado
sob o tema inicial do São João, Luiz Gonzaga fez um retrato fiel da cultura e
dos costumes sertanejos. Ouvir o disco é quase como enxergar o cenário do
sertão nordestino, tamanha é a riqueza verbal e sonora deste álbum.
01 - Da Lama ao Caos (1994) - Chico Science e Nação Zumbi
Nada já produzido no mercado mundial
da música se compara ao que Chico Science e a Nação Zumbi fizeram neste disco.
Um som jamais escutado, com influências do Funk, Rock, Embolada, Maracatu,
Psicodelia e Música Afro. Resultou em uma música revolucionária que inaugurou
um novo jeito de fazer música. O disco também é responsável por lançar para o
mundo o movimento do Mangue Beat. Inicialmente, a crítica especializada não
conseguiu entender direito o que estava escutando, afinal, o disco é
extremamente mixado e remexido, com riffs de guitarra pesada misturados com
tambores de maracatu e um vocal quase falado de Chico Csience. Mesmo sem
inicialmente agradar a todos, o álbum se tornou um marco na música brasieira. "Da
lama ao Caos" é tão importante que influenciou profundamente tudo o que
viria a ser produzido no cenário do Rock nacional nas décadas seguintes e, por
essa razão, é o melhor disco pernambucano já produzido.
Gostei muito da lista, me daria ao luxo de acrescentar o primeiro disco do Ave Sangria, sob mesmo nome. Grande abraço.
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