quinta-feira, 3 de março de 2016

Filme "A Bruxa" é Assustadoramente Realista


Estreia hoje nos cinemas brasileiros o esperado filme de terror: "A Bruxa" (EUA/Canada - 2015). Dirigido pelo estreante Robert Eggers, "A Bruxa" vem causando um alvoroço muito antes da sua estreia no circuito comercial. O filme começou fazendo história ao vencer inúmeros prêmios em festivais que geralmente ignoram o gênero terror, raramente lhe concedendo premiações. Venceu o London Film festival e Eggers garantiu o prêmio de melhor diretor em Sundance.  A crítica internacional chegou à rara unanimidade ao exaltar a qualidade do filme, bem como a sua capacidade de assustar até aqueles mais fanáticos por filmes de terror. Até mesmo o mestre do terror, Stephen King, admitiu em seu Twitter que ficou muito assustado: "A Bruxa me assustou muito. É um filme real, tenso, reflexivo e também visceral.


O Diretor inicialmente teve dificuldades para angariar recursos para rodar seu filme. Durante quatro anos, Eggers distribuiu a sinopse de "A Bruxa" em Hollywood sem que nenhum grande estúdio se interessasse. Até que o brasileiro Rodrigo Teixeira, da RT Features, colocou as mãos na sinopse do cineasta e resolveu produzi-lo: "Fui o primeiro investidor a entrar no projeto, sem ler o roteiro. Era um filme difícil, de conceito complicado, mas senti que havia algo bom na ideia." Eggers agradeceu a confiança de Teixeira: "Me deixaram ser obsessivo com os detalhes e escolher o elenco que queria. Não estaria aqui sem eles". Os atores tiveram que aprender a falar o inglês arcaico do século XVII e a manusear ferramentas rudimentares em cena. Todos estão brilhantemente escalados, mas o destaque fica por conta do garoto Harvey Scrimshaw no papel de Caleb, que protagoniza uma das cenas mais arrepiantes do filme quando profere um monólogo sinistro e muito assustador.


Nos EUA, onde o filme já estreou, a bilheteria ultrapassou a casa dos US$ 20 milhões de dólares, quatro vezes mais que o custo de produção, que não ultrapassou os US$ 5 milhões. "A Bruxa" repete o sucesso de outros filmes de terror independentes que conseguiram sucesso no circuito comercial, como "A Bruxa de Blair" e "Atividade Paranormal".


A trama se passa nos EUA da década de 1630. William, Katherine e seus cinco filhos vivem na Nova Inglaterra em uma colônia de imigrantes ingleses extremamente religiosos. A família vive bem até ser expulsa do local por professar uma fé diferente daquela permitida pelas autoridades. Juntos vão morar num local isolado, à beira de um bosque. Um dia, o bebê recém-nascido desaparece diante dos olhos da filha mais velha, Thomasin, enquanto brincavam. A partir daí começam a se desenrolar fenômenos inexplicáveis.


A obra é uma grande reflexão sobre o fanatismo religioso e a repressão sexual do colonizadores americanos do início do século XVII, que culminariam em diversos julgamentos por bruxaria e satanismo nos anos seguintes, dentre eles o das bruxas de Salem. É um retrato fiel da loucura e do desespero mental que pairavam sobre as cabeças dos primeiros imigrantes, que estavam diante de um lugar estranho, macabro e selvagem. O tempo inteiro a verborragia fanático-religiosa é proferida pelos personagens, sempre fazendo referências aos pecados, principalmente ao original. Em determinado momento o telespectador se questionará se de fato os fenômenos demonstrados são reais ou fruto de uma religiosidade cega capaz de criar delírios nas mentes dos seus professadores.  Para conduzir essa reflexão, o cineasta optou por um ritmo lento e introspectivo. A fotografia é fria e as cores são raramente utilizadas. Quase tudo na tela é marrom, preto ou cinza e não há uso de iluminação artificial. Toda a luz que está na tela é natural, o que dá um ar extremamente realista para o que se vê. Os diálogos trazem temáticas sinistras, evocando o nome de Deus para a defesa contra o pecado e a bruxaria. O clima é melancólico, misterioso e extremamente depressivo. A iluminação natural e a morosidade causam uma sensação de realidade muito inquietante e assustadora. Há uma intenção clara de trazer um peso mental para o telespectador, que carregará esse 'fardo' por várias horas depois do fim da sua sessão. Como um todo, foge do lugar comum e alcança uma forma diferente de fazer cinema de terror, mais profunda e visceral, que exige um raciocínio mais crítico de quem assiste. 

Não há o clichê de sustos fáceis como em "A Invocação do Mal" ou "Annabelle". Não há demônios pulando na tela ou orquestras barulhentas para fazer o seu coração pular pela boca. O terror neste filme consiste na tortura mental a que sujeita o seu espectador. Não é algo fácil de digerir e de se acompanhar. Requer paciência, atenção e um pouco de sangue frio. Não é um filme para se divertir com os amigos. É uma experiência incomum. É um mergulho num mundo sombrio, triste e sinistro que exige grande trabalho mental e muita atenção. 

Ficou com vontade de ver? Assista o trailer!

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